Montanhista mutuense faz a travessia da Serra Fina

Patrícia Lamarca de Oliveira Santos, montanhista do Grupo Auge, juntamente com o seu namorado, Waslen Viana Gonçalves (Cae) de Guaçuí-ES e três amigos, Nícolas de Vitória-ES, Alexandrino e Fabiana do Rio de Janeiro-RJ fizeram, entre os dias 31 de maio e 3 de junho, a travessia da Serra Fina, considerada uma das mais difíceis do Brasil. 

Os picos mais altos do Brasil
A  Serra Fina faz parte da Serra da Mantiqueira e está localizada na divida dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, onde se encontra a Pedra da Mina, considerada o 4.º ponto mais alto do Brasil com 2.798,06 m. Coordenadas geográficas: 22°25’40” S e 44°50’33” W. A trilha percorre cerca de 33 km em terreno extremamente acidentado, subindo e descendo outros picos importantes, como o Pico do Capim Amarelo (2.491m)Pico dos Três Estados (2.656m) e Cupim de Boi (2.543m). Ao todo a região tem mais de 10 picos com mais de 2.500m. 

E por que a travessia da Serra Fina é considerada tão difícil? 
As distâncias verticais são consideráveis, isto é, os desníveis são abruptos e constantes, para cima e para baixo, com muitas escalaminhadas.  O clima é instável, e o mau tempo pode arruinar seus planos, são poucos os pontos de água, o que nos obriga a carregar o peso extra desse precioso líquido na mochila, já pesada com todo o equipamento de frio e comida.  Em muitos trechos a trilha é difícil de ser localizada, passando por mata fechada, onde trilhas laterais podem confundir o trilheiro desavisado.

Abaixo seguem alguns trechos do diário da aventura registrados por Patrícia que também faz parte do Grupo Selvagem, liderado pelo namorado Waslen. O Grupo começou a planejar a travessia em meados de 2017 com pesquisas e outros preparativos para o grande desafio. 

"Por ser considerada a travessia mais difícil do Brasil, a Serra Fina é inigualável, a experiência é insubstituível e exige um condicionamento físico sem igual. Confesso que em muitos trechos meu namorado, além de carregar a mochila dele, voltava e pegava a minha, para que ficasse mais fácil a subida.


No primeiro momento, lembro-me de ter lido em diversos sites, sobre tipos de roupas e comida, pois essa travessia exige que você carregue toda água que você irá consumir bebendo e para comida na mochila. Existem 3 pontos de água, um no início do Trekking, outro no final do segundo dia, e outro praticamente no final da trilha quando você completa os 4 dias de escalaminhada. 

Carregar uma mochila de praticamente 30 kg ou mais nas costas subindo altitudes de mais de 2.700 metros não é fácil. A água tinha que ser racionada para que o consumo não excedesse, pois ali água valia mais que ouro, algumas vezes substituímos o almoço por lanches para economizar a água. A comida às vezes compartilhada tinha que ser leve e ao mesmo tempo forte para que o organismo suportasse um dia inteiro de desgaste físico.

Na mochila não podia faltar a barraca, o isolante térmico, saco de dormir (pois teve dias da temperatura estar negativa)  roupa de frio, kit de higiene pessoal e kit de cozinha, o que já deixava a mochila bem pesada, sem a água que ainda tínhamos que pegar minha mochila pesava por volta de 15kg.

Quando chegamos em Passa Quatro ligamos para o resgate (Sr. Antonio), e combinamos um horário para começarmos a subir, enquanto comprávamos alguns itens que ainda não tínhamos, e dávamos uma volta na cidade para conhecer.

PRIMEIRO DIA. 
Por volta das 5 horas da manha começamos a subida, logo encontramos a toca do lobo, que é o inicio da trilha e onde tem o primeiro ponto de água. Abastecemos os cantis e começamos a subida, rumo ao camping do capim amarelo avançado, já que começamos mais cedo, e demos conta de ir além do planejado para o primeiro dia. Alê, Fabi e Nícolas, chegaram bem antes de mim e do Cae, pois como falei, ele teve que carregar a minha mochila boa parte do caminho.
Todos falam que o primeiro dia é o mais difícil, mais eu particularmente achei todos bem complicados, apesar do último dia ser mais decida, quanto mais andava mais chão parecia ter.
Resumo do primeiro dia: 7,7km percorridos, elevação de 2.496m, chegamos no Acampamento avançado. 

SEGUNDO DIA. 
Já no segundo dia acordamos, desmontamos as barracas, fizemos um café e começamos a subida para a Pedra da Mina (4.ª maior montanha do Brasil). Nosso objetivo é fazer as 10 maiores montanhas do Brasil. O cansaço do dia anterior ainda estava no corpo, como tínhamos subido muito no primeiro dia achávamos que seria mais suave, estávamos bem enganados, a subida é bem puxada, além de escorregadia, mais nada tão terrível, se bem que nessa hora meu namorado teve que usar o psicológico comigo e falar constantemente no meu ouvido que eu conseguiria, pensei em desistir a cada dois passos que eu dava. Enfim chegamos ao cume, assinamos o livro de registro, que se encontra na montanha, e começamos a descer.

Nesse dia estava escurecendo e nossos amigos tinham ido na frente, com isso Cae e eu não chegamos ao acampamento encontramos um lugar seguro para acampar e acordamos mais cedo para assim que começasse a clariar o dia voltássemos a encontrar o grupo para seguir o Trekking.
Resumo do Segundo dia: 6,9km percorridos, elevação 2.798m, acampamento – em algum lugar entre a pedra da Mina e o acampamento Maracanã.

TERCEIRO DIA. 
Encontramos o restante do grupo e seguimos ao ponto de água para reabastecer, ali aproveitamos e fizemos uma comida mais reforçada e tomamos café. Depois de atravessar o Vale do Ruah, onde além do terreno ser bem úmido, tinha hora que tínhamos que atolar o pé no barro até a canela(um barro preto) entre tufos de capim que era mais alto que nossas cabeças, alcançamos o Cupim do Boi ainda cedo mas, tivemos a informação que o acampamento avançado do pico dos 3 estados mais o pico estavam lotados, e então conseguimos chegar até o acampamento do Bambuzal onde iríamos descansar e fazer outra refeição mais encorpada para que o 4.º dia fosse finalizado, com mais tranquilidade. (um sonho que isso fosse verdade).
Resumo do Terceiro dia: 6,8km percorridos, elevação 2.573m, acampamento bambuzal – base do pico dos 3 estados.

QUARTO DIA. 
Levantamos bem cedo, por volta das 4:00 h da manhã, mais descobrimos que todos no acampamento já tinham subido para ver o nascer do sol. Embora neste dia o tempo fechou e o sol além de não sair, o nevoeiro e o vento estavam muito forte. A subida é bem íngreme, o que dificulta um pouco quando você está com o peso de água na mochila. Mas mesmo assim atingimos o cume bem cedo. Novamente tiramos umas fotos no marco, onde divide os 3 estados, e começamos a descer, pois esse dia seria o dia de percorrer a maior quilometragem.

Apesar de muitas subidas e descidas, esse dia parecia que tinha mais escalaminhadas que todos os outros dias. Quando chegamos no alto dos Ivos, encontramos um grupo de montanhistas que estavam separados, pois um integrante estava passando mal, essa turma acabou a descida conosco, pois essa descida tem várias bifurcações onde é fácil de se perder. Chegando no sitio do Pierre, nosso amigo Nícolas ligou para nosso resgate onde ainda tínhamos que percorrer mais alguns quilômetros de descida, chegando na rodovia, o Sr. Antonio já estava nos esperando, fomos para Passa Quatro onde o Alexandrino tinha deixado o carro na casa do Sr. Antonio e voltamos para casa, cansados porém cheios de inesquecíveis recordações.
Resumo do quarto dia: 12,24km percorridos, 2.665m de elevação, rodovia de Itamonte."

          






    

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